A restrição física como prática médica

Embora seja do desconhecimento da população em geral, ainda são utilizadas práticas médicas de restrições físicas tanto em pessoas com doenças mentais como em pessoas idosas (grupo ainda mais invisível).

Ultimamente essas práticas têm sido alvo de um crescente protesto social, quer por parte de profissionais de saúde, quer de organizações não governamentais. Está em causa a dignidade da pessoa e a defesa dos direitos humanos.

O debate sobre este tema está mais vivo do que nunca, e A Universidade de Castilla-La Mancha (UCLM) organizou uma conferência sobre o tema “Eliminação de restrições físicas em centros de saúde: um ambiente livre”. O evento foi organizado em Talavera de la Reina pela Faculdade de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Enfermagem.

É impossível estabelecer uma relação de confiança e terapêutica entre uma pessoa doente e os profissionais de saúde se o tratamento for violento e coercivo. A utilização de contenção mecânica é uma prática altamente iatrogénica (dano na saúde provocado por um ato médico) e com consequências traumatizantes.

Há toda uma cultura sobre como enfrentar, acompanhar, e aliviar o sofrimento psicológico que precisa de ser mudada. É perfeitamente possível não ter que amarrar as pessoas, e essa cultura de violência e pequena violência cotidiana tem a participação de várias classes de profissionais de saúde.

Pelo simples fato de a pessoa ser diagnosticada, passa a ser-lhe dito o que deve fazer, como se deve relacionar, que mudanças precisa de introduzir na sua vida, e como têm que ser as suas rotinas. E os profissionais de saúde dizem-no com a capacidade de privá-la da sua liberdade, de forçá-la a tomar os remédios e – a ponta do iceberg visível - de amarrá-la à cama.



Existem alternativas?

A decisão de amarrar é médica e existem alternativas. Uma crise psicótica pode ser medicamente acompanhada com o compromisso de respeitar as decisões da pessoa paciente e sem restrições.

Vários fatores contribuem para que isso seja possível, e o primeiro deles é "horizontalizar" as equipas, ou seja, incluir uma pessoa com experiência em saúde mental para anular a hierarquia das várias formas de saber.

Se a responsabilidade for compartilhada, em vez de recair numa única pessoa, é mais difícil recorrer à violência ou à “cultura do amarrar”. Outras soluções passam por reduzir o medo dos pacientes e aprender com outras disciplinas que "estudaram a violência e as relações de dominação".

Existem organizações que com pouco aumento de pessoal - e com funcionários treinados - não usam um único sistema de sujeição. A utilização de restrições existe porque não se sabe como trabalhar sem elas.

Um relator da ONU referiu em 2013 que “não há justificação terapêutica para a utilização da reclusão em regime de isolamento, e da imobilização forçada por períodos longos. Tanto o isolamento prolongado como a imobilização podem constituir tortura e maus tratos.”

A retenção física nunca deve ser vista como um recurso

Como é que os profissionais de saúde podem conceber esta realidade? Manter uma pessoa com deterioração cognitiva sujeita a dispositivos de retenção, mina a sua dignidade e os seus direitos.

Por um lado, significa uma diminuição das suas capacidades físicas e cognitivas, e há estudos e trabalhos científicos que o comprovam. A nível emocional é um golpe na autoestima com sentimentos de vergonha, raiva e é um fator importante em casos de transtorno de humor ou depressão.

Apesar de haver uma regulamentação para a sua utilização, os dispositivos de retenção não são utilizados para o benefício da pessoa paciente, mas sim para cobrir as deficiências da organização.

Não se deve, portanto, "melhorar" esta prática, mas simplesmente erradicá-la. A retenção física nunca deve ser vista como um recurso.

A utilização de ferramentas de imobilização e de cintos de segurança para cadeiras ou camas é cada vez menor, especialmente em centros geriátricos.

Fonte: https://www.eldiario.es/clm/cultura-eliminar-sujeciones-personas-enfermedad_0_875263380.html



Artigo COMO LIDAR COM ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO aqui:  https://www.cuidador.pt/blogue/245-como-lidar-com-alteracoes-de-comportamento

Artigo 3 SUGESTÕES PARA LIDAR COM ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO aqui: https://www.cuidador.pt/blogue/203-3-sugestoes-para-lidar-com-alteracoes-de-comportamento

Artigo COMO DIMINUIR O RISCO DE FUGA DE UMA PESSOA COM DEMÊNCIA aqui: https://www.cuidador.pt/blogue/134-como-diminuir-o-risco-de-fuga-de-uma-pessoa-com-demencia

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